O Verdadeiro
Significado
do “Holocausto...”
Profa. Karel Reynolds
Diretora do Holocaust Museum WFCS
da Carolina do Norte, Estados Unidos
Tradução: Gilberto Cury, abril de 2013.
Ódio, matanças, genocídios, envolvem o mundo de hoje. Atrocidades que
outrora eram inimagináveis tornaram-se realidades horríveis. Como ousaríamos
ignorar ou mesmo negar o conhecimento de tal terror? Contudo, temos uma
responsabilidade muitíssimo maior, não somente conosco mesmos, mas também com
as gerações futuras, de reconhecer e compreender as motivações e os personagens
que estão por detrás de tal violência, na esperança de que nós próprios não
venhamos a cair na armadilha dessa odiosidade, seja como vítimas ou
perpetradores. Devemos estar comprometidos em prover aos nossos estudantes uma
formação que os prepare para enfrentar o mundo em que vivemos, e nele fazer uma
diferença. Eles precisam ter uma visão realista e integral dos fatos, para
poderem entender aquele que foi talvez um dos períodos mais tenebrosos da
história moderna – o Holocausto. Isto começa com uma pesquisa minuciosa da
destruição dos judeus europeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Os tópicos incluem a ideologia do antissemitismo, as estruturas burocráticas, as
várias condições da ocupação e domínio da Europa durante o Terceiro Reich. Após
a conclusão, os estudantes devem ser capazes de demonstrar um entendimento dos
fatores históricos, sociais, religiosos, políticos e econômicos que
cumulativamente resultaram no Holocausto. Além disso, os estudantes devem ser
direcionados e encorajados a aplicar as lições contra ódio, racismo,
preconceito, violência, indiferença, às suas próprias vidas e ao ambiente em
que vivem, de tal modo que possam desenvolver um código de ética forte e único,
um senso de moralidade e respeito pela vida humana, através do qual eles escolhem
viver.
Vivemos hoje num tempo notável, muito especial, no qual ainda temos o
raro e exclusivo privilégio de aprender a respeito do Holocausto através do
depoimento de testemunhas oculares e dos próprios sobreviventes. Contudo, esta
oportunidade está se aproximando do fim, uma vez que o número daqueles que
viveram a experiência do Holocausto vai diminuindo pouco a pouco. Nossa
responsabilidade de aprender e compreender o que estas pessoas extraordinárias
vivenciaram e suportaram, é agora. Precisamos nos empenhar em prestar atenção a
estas experiências de vida e assegurar que nem estes sobreviventes, nem suas
histórias verdadeiras serão jamais esquecidas. O Holocausto é muito, muito mais
do que um simples acontecimento traumático, um divisor de águas que abalou o
século XX. A menos que aprendamos a compreender a trágica história do
Holocausto, essa história pode se tornar nosso futuro.
Nazistas, Judeus, SS, Gestapo, Noite dos Cristais, boicotes, guetos,
campos de concentração, intoxicação e morte por gases, fome mortal, trabalhos
forçados, saques e pilhagem, trens de deportação, morte massiva, exterminação,
racismo, antissemitismo, Auschwitz, Majdanek, Varsóvia, Lodz, Polônia, Hungria,
resistência, ódio, crueldade...— estas palavras, tomadas em conjunto, formam
somente um pequeno, infinitesimal vislumbre de um genocídio singular, sem
comparação, que alcançou além do que a humanidade jamais testemunhou ou experimentou
– o Holocausto. Há hoje abundância de livros sobre o Holocausto. Professores
ensinam sobre o Holocausto, sobreviventes falam sobre o Holocausto, eruditos
investigam o Holocausto. Não devemos nunca permitir que as ações do Holocausto
aconteçam de novo neste mundo.
Mas, o que foi “o Holocausto”? Que significa realmente “o Holocausto”?
O termo “Holocausto” se refere à sistemática e burocrática perseguição e
assassinato de seis milhões de judeus,
patrocinada pelo governo alemão, e executada pelo regime nazista e seus
colaboradores, de 1933 e 1945. O antissemitismo havia ganhado grande força na
Europa, especialmente por meio da doutrina e da propaganda do Partido Nazista
nas décadas de 1920 e 1930. O desenvolvimento que Hitler proporcionou da ideia
de uma raça superior dominadora alimentou seu antissemitismo, já existente e
expressado em sua obra Mein Kampf. Imediatamente após haver ganhado poder, a
destruição dos judeus por Hitler teve início. Através da década de 1930, mais
de quatrocentos decretos antissemitas, especificamente as Leis de Nuremberg,
impuseram aos judeus da Alemanha severas restrições legais e civis. De fato, a segunda
Lei de Nuremberg foi a “Lei para a Proteção do Sangue Alemão e da Honra Alemã”,
separando os judeus dos alemães em muitas facetas da vida, inclusive o
casamento e estabelecendo a mentalidade segregacionista do “nós” e “eles”.
Através da ciência racial nazista, o judeu começou a ser visto como um comedor
inútil, o bode expiatório, o inimigo do Estado. Rapidamente os judeus passaram
a ser perseguidos em todos os aspectos da vida – seus negócios foram
boicotados; a educação escolar judaica foi declarada ilegal; os judeus eram
publicamente humilhados e mortos. O progrom da Noite dos Cristais, em novembro
de 1938, marcou o início de ódio e maus tratos ainda maiores, por meio da
queima de pergaminhos sagrados da Torah, de livros judaicos, de sinagogas, de
estabelecimentos comerciais de judeus... e isto foi apenas o começo do processo
de “queima” do Holocausto, que iria se espalhar através dos territórios
europeus recém-conquistados. O trabalho forçado dos judeus começou antes do
início da Segunda Guerra Mundial e o estabelecimento de guetos ganhou força à
medida que Hitler invadia e tomava controle de outros países da Europa,
começando em 1939. Crueldade desumana, ódio, fome desesperadora eram experimentados
pelos judeus europeus que viviam nos guetos e o processo de deportação para os
campos de concentração logo começou. Fuzilamentos em massa pelos Einsatzgruppen
tiraram a vida de milhares de judeus, homens, mulheres e crianças – mas isto
não foi suficiente. Os líderes nazistas colaboraram, sob a direção de Hitler,
na Conferência de Wannsee, em janeiro de 1942 e lá a “Solução Final” para a
questão judaica foi deliberada e determinada – a completa aniquilação dos
judeus europeus. Depois disto, milhões de judeus, tanto jovens quanto velhos,
encontraram seus destinos nas câmaras de gás dos campos de morte, enquanto
outros pereceram nos horrendos e desumanos trabalhos forçados dentro desses
campos.
O processo do Holocausto foi verdadeiramente sistemático e burocrático,
iniciado por meio do Partido Nazista e do Terceiro Reich e instigado a cada
ponto através de ações do sistema legal, da polícia, dos militares e do sistema
judicial, sempre patrocinadas pelo Estado. O exército particular de Hitler, que
era a AS; a polícia nazista; os Einsatzgruppen, ou grupos móveis especializados
de extermínio; e a SS, guarda pessoal especializada de Hitler, foram os
principais perpetradores do Holocausto, juntamente com milhares de civis
europeus que eram empregados pela burocracia do governo para exercer funções
específicas, necessárias para completar a “Solução Final”. Era o governo que
emitia decretos exigindo a concentração de pessoas para deportações,
esterilização, estabelecimento de guetos, uso da estrela amarela e outros,
visando a desumanização dos judeus. A estrutura do governo era arranjada de
modo a direcionar os fatores militares, sociais e econômicos necessários para
aniquilar os judeus europeus por meio do Holocausto, sob a cobertura da
agitação política e da Segunda Guerra Mundial.
A palavra grega “Holokáuston” significa “um sacrifício inteiramente
queimado”, do
qual restam somente cinzas, diferente do sacrifício parcialmente queimado, no
qual a carne permanece para consumo do sacerdote. Através da História, a
palavra holocausto tem sido usada para ilustrar grandes matanças, mas o temo
“Holocausto” tem sido aplicado, como entendemos hoje, desde a década de 1950. Simon
Wiesel, o renomado sobrevivente do Holocausto, é tido como aquele que
popularizou a palavra.
Os
ciganos, os deficientes, os homossexuais, os oponentes políticos, religiosos e
culturais do regime nazista, assim como as pessoas que resgataram e salvaram os
judeus, têm algumas vezes sido vistas como vítimas do Holocausto. Sim, estes
grupos sofreram genocídio e absoluta desumanidade por parte dos nazistas e do
Terceiro Reich, que nunca deveria ser subestimada, mas não como vítimas de “o
Holocausto”. Estes grupos, junto com os judeus, foram alvo dos nazistas em seus
esforços de purificação da raça européia e limpeza étnica. “O Holocausto”,
contudo, carregava em si uma dimensão a mais, uma profunda, desprezível, mesquinha
raiz de antissemitismo. O ódio aos judeus foi o ingrediente primário e
instantâneo do genocídio conhecido como “o Holocausto”. A “Solução Final” de
Hitler para o Problema Judeu brotou de seu ávido ódio aos judeus e às raças
“inferiores”, enquanto buscava arianizar o mundo e criar uma raça “superior”.
Em 30 de janeiro de 1939, Hitler falou em Berlim, referindo-se aos judeus como
inimigos do mundo, culpando-os pela Segunda Guerra Mundial e exigindo “a
aniquilação da raça judaica na Europa”, quando foi sua própria ideologia
antissemita que desempenhou o papel principal para estimular a Segunda Guerra,
desde o seu início.
O
lider nazista Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda do Reich, anotou em seu
diário, no dia 12 de dezembro de 1941: “Com relação à Questão Judaica, o Fuhrer
decidiu fazer uma limpeza geral. Ele profetizou aos judeus que, se eles
novamente provocassem uma guerra mundial, eles iriam viver para ver a sua
própria aniquilação nela. Isso não foi apenas uma força de expressão. A guerra
mundial está aqui, e a aniquilação dos judeus deve ser a necessária
consequência.”
A
lista das horrendas e inimagináveis ações do Holocausto continua a vir à luz
ainda hoje, décadas depois que esta cicatriz sombria foi deixada sobre a
própria História da Humanidade. O
genocídio do Holocausto estava “implícito na ideologia de Hitler” e se espalhou
através do Partido Nazista e de muitos civis da Europa, para incitá-los a
perpetrar um nível sem paralelo de maldade e ódio contra um grupo inteiro de
pessoas. Precisamos nos precaver, por nós mesmos e pelas futuras gerações, para
nunca cairmos nessa maldade indescritível – nunca, nunca podemos nos esquecer
das atrocidades do Holocausto, ou deixar de tomar posição contra o ódio e o
genocídio.
Fontes
consultadas:
Gilbert, Martin, Final Journey (New York, N.Y.: Mayflower
Books, 1979), 32
Niewyk, Donald, “Holocaust: the Genocide of Jews”, in
Samuel Totten and William S. Parsons ed., Century
of Genocide (New York, N.Y.: Rutledge, 1997), 132
*
* *
Nenhum comentário:
Postar um comentário