segunda-feira, abril 08, 2013

Artigo sobre o holocausto


O  Verdadeiro Significado  do  “Holocausto...”
Profa. Karel Reynolds
  Diretora do Holocaust Museum WFCS
 da Carolina do Norte, Estados Unidos

 Tradução: Gilberto Cury, abril de 2013.

Ódio, matanças, genocídios, envolvem o mundo de hoje. Atrocidades que outrora eram inimagináveis tornaram-se realidades horríveis. Como ousaríamos ignorar ou mesmo negar o conhecimento de tal terror? Contudo, temos uma responsabilidade muitíssimo maior, não somente conosco mesmos, mas também com as gerações futuras, de reconhecer e compreender as motivações e os personagens que estão por detrás de tal violência, na esperança de que nós próprios não venhamos a cair na armadilha dessa odiosidade, seja como vítimas ou perpetradores. Devemos estar comprometidos em prover aos nossos estudantes uma formação que os prepare para enfrentar o mundo em que vivemos, e nele fazer uma diferença. Eles precisam ter uma visão realista e integral dos fatos, para poderem entender aquele que foi talvez um dos períodos mais tenebrosos da história moderna – o Holocausto. Isto começa com uma pesquisa minuciosa da destruição dos judeus europeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Os tópicos incluem a ideologia do antissemitismo, as estruturas burocráticas, as várias condições da ocupação e domínio da Europa durante o Terceiro Reich. Após a conclusão, os estudantes devem ser capazes de demonstrar um entendimento dos fatores históricos, sociais, religiosos, políticos e econômicos que cumulativamente resultaram no Holocausto. Além disso, os estudantes devem ser direcionados e encorajados a aplicar as lições contra ódio, racismo, preconceito, violência, indiferença, às suas próprias vidas e ao ambiente em que vivem, de tal modo que possam desenvolver um código de ética forte e único, um senso de moralidade e respeito pela vida humana, através do qual eles escolhem viver.
Vivemos hoje num tempo notável, muito especial, no qual ainda temos o raro e exclusivo privilégio de aprender a respeito do Holocausto através do depoimento de testemunhas oculares e dos próprios sobreviventes. Contudo, esta oportunidade está se aproximando do fim, uma vez que o número daqueles que viveram a experiência do Holocausto vai diminuindo pouco a pouco. Nossa responsabilidade de aprender e compreender o que estas pessoas extraordinárias vivenciaram e suportaram, é agora. Precisamos nos empenhar em prestar atenção a estas experiências de vida e assegurar que nem estes sobreviventes, nem suas histórias verdadeiras serão jamais esquecidas. O Holocausto é muito, muito mais do que um simples acontecimento traumático, um divisor de águas que abalou o século XX. A menos que aprendamos a compreender a trágica história do Holocausto, essa história pode se tornar nosso futuro.
Nazistas, Judeus, SS, Gestapo, Noite dos Cristais, boicotes, guetos, campos de concentração, intoxicação e morte por gases, fome mortal, trabalhos forçados, saques e pilhagem, trens de deportação, morte massiva, exterminação, racismo, antissemitismo, Auschwitz, Majdanek, Varsóvia, Lodz, Polônia, Hungria, resistência, ódio, crueldade...— estas palavras, tomadas em conjunto, formam somente um pequeno, infinitesimal vislumbre de um genocídio singular, sem comparação, que alcançou além do que a humanidade jamais testemunhou ou experimentou – o Holocausto. Há hoje abundância de livros sobre o Holocausto. Professores ensinam sobre o Holocausto, sobreviventes falam sobre o Holocausto, eruditos investigam o Holocausto. Não devemos nunca permitir que as ações do Holocausto aconteçam de novo neste mundo.
Mas, o que foi “o Holocausto”? Que significa realmente “o Holocausto”?
O termo “Holocausto” se refere à sistemática e burocrática perseguição e assassinato de seis  milhões de judeus, patrocinada pelo governo alemão, e executada pelo regime nazista e seus colaboradores, de 1933 e 1945. O antissemitismo havia ganhado grande força na Europa, especialmente por meio da doutrina e da propaganda do Partido Nazista nas décadas de 1920 e 1930. O desenvolvimento que Hitler proporcionou da ideia de uma raça superior dominadora alimentou seu antissemitismo, já existente e expressado em sua obra Mein Kampf. Imediatamente após haver ganhado poder, a destruição dos judeus por Hitler teve início. Através da década de 1930, mais de quatrocentos decretos antissemitas, especificamente as Leis de Nuremberg, impuseram aos judeus da Alemanha severas restrições legais e civis. De fato, a segunda Lei de Nuremberg foi a “Lei para a Proteção do Sangue Alemão e da Honra Alemã”, separando os judeus dos alemães em muitas facetas da vida, inclusive o casamento e estabelecendo a mentalidade segregacionista do “nós” e “eles”. Através da ciência racial nazista, o judeu começou a ser visto como um comedor inútil, o bode expiatório, o inimigo do Estado. Rapidamente os judeus passaram a ser perseguidos em todos os aspectos da vida – seus negócios foram boicotados; a educação escolar judaica foi declarada ilegal; os judeus eram publicamente humilhados e mortos. O progrom da Noite dos Cristais, em novembro de 1938, marcou o início de ódio e maus tratos ainda maiores, por meio da queima de pergaminhos sagrados da Torah, de livros judaicos, de sinagogas, de estabelecimentos comerciais de judeus... e isto foi apenas o começo do processo de “queima” do Holocausto, que iria se espalhar através dos territórios europeus recém-conquistados. O trabalho forçado dos judeus começou antes do início da Segunda Guerra Mundial e o estabelecimento de guetos ganhou força à medida que Hitler invadia e tomava controle de outros países da Europa, começando em 1939. Crueldade desumana, ódio, fome desesperadora eram experimentados pelos judeus europeus que viviam nos guetos e o processo de deportação para os campos de concentração logo começou. Fuzilamentos em massa pelos Einsatzgruppen tiraram a vida de milhares de judeus, homens, mulheres e crianças – mas isto não foi suficiente. Os líderes nazistas colaboraram, sob a direção de Hitler, na Conferência de Wannsee, em janeiro de 1942 e lá a “Solução Final” para a questão judaica foi deliberada e determinada – a completa aniquilação dos judeus europeus. Depois disto, milhões de judeus, tanto jovens quanto velhos, encontraram seus destinos nas câmaras de gás dos campos de morte, enquanto outros pereceram nos horrendos e desumanos trabalhos forçados dentro desses campos.
O processo do Holocausto foi verdadeiramente sistemático e burocrático, iniciado por meio do Partido Nazista e do Terceiro Reich e instigado a cada ponto através de ações do sistema legal, da polícia, dos militares e do sistema judicial, sempre patrocinadas pelo Estado. O exército particular de Hitler, que era a AS; a polícia nazista; os Einsatzgruppen, ou grupos móveis especializados de extermínio; e a SS, guarda pessoal especializada de Hitler, foram os principais perpetradores do Holocausto, juntamente com milhares de civis europeus que eram empregados pela burocracia do governo para exercer funções específicas, necessárias para completar a “Solução Final”. Era o governo que emitia decretos exigindo a concentração de pessoas para deportações, esterilização, estabelecimento de guetos, uso da estrela amarela e outros, visando a desumanização dos judeus. A estrutura do governo era arranjada de modo a direcionar os fatores militares, sociais e econômicos necessários para aniquilar os judeus europeus por meio do Holocausto, sob a cobertura da agitação política e da Segunda Guerra Mundial.
A palavra grega “Holokáuston” significa “um sacrifício inteiramente queimado”, do qual restam somente cinzas, diferente do sacrifício parcialmente queimado, no qual a carne permanece para consumo do sacerdote. Através da História, a palavra holocausto tem sido usada para ilustrar grandes matanças, mas o temo “Holocausto” tem sido aplicado, como entendemos hoje, desde a década de 1950. Simon Wiesel, o renomado sobrevivente do Holocausto, é tido como aquele que popularizou a palavra.
Os ciganos, os deficientes, os homossexuais, os oponentes políticos, religiosos e culturais do regime nazista, assim como as pessoas que resgataram e salvaram os judeus, têm algumas vezes sido vistas como vítimas do Holocausto. Sim, estes grupos sofreram genocídio e absoluta desumanidade por parte dos nazistas e do Terceiro Reich, que nunca deveria ser subestimada, mas não como vítimas de “o Holocausto”. Estes grupos, junto com os judeus, foram alvo dos nazistas em seus esforços de purificação da raça européia e limpeza étnica. “O Holocausto”, contudo, carregava em si uma dimensão a mais, uma profunda, desprezível, mesquinha raiz de antissemitismo. O ódio aos judeus foi o ingrediente primário e instantâneo do genocídio conhecido como “o Holocausto”. A “Solução Final” de Hitler para o Problema Judeu brotou de seu ávido ódio aos judeus e às raças “inferiores”, enquanto buscava arianizar o mundo e criar uma raça “superior”. Em 30 de janeiro de 1939, Hitler falou em Berlim, referindo-se aos judeus como inimigos do mundo, culpando-os pela Segunda Guerra Mundial e exigindo “a aniquilação da raça judaica na Europa”, quando foi sua própria ideologia antissemita que desempenhou o papel principal para estimular a Segunda Guerra, desde o seu início.
O lider nazista Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda do Reich, anotou em seu diário, no dia 12 de dezembro de 1941: “Com relação à Questão Judaica, o Fuhrer decidiu fazer uma limpeza geral. Ele profetizou aos judeus que, se eles novamente provocassem uma guerra mundial, eles iriam viver para ver a sua própria aniquilação nela. Isso não foi apenas uma força de expressão. A guerra mundial está aqui, e a aniquilação dos judeus deve ser a necessária consequência.”
A lista das horrendas e inimagináveis ações do Holocausto continua a vir à luz ainda hoje, décadas depois que esta cicatriz sombria foi deixada sobre a própria História da Humanidade.  O genocídio do Holocausto estava “implícito na ideologia de Hitler” e se espalhou através do Partido Nazista e de muitos civis da Europa, para incitá-los a perpetrar um nível sem paralelo de maldade e ódio contra um grupo inteiro de pessoas. Precisamos nos precaver, por nós mesmos e pelas futuras gerações, para nunca cairmos nessa maldade indescritível – nunca, nunca podemos nos esquecer das atrocidades do Holocausto, ou deixar de tomar posição contra o ódio e o genocídio.



Fontes consultadas:
United States Holocaust Memorial Museum – www.ushmm.org
Jewish Virtual Library – www.jewishvirtuallibrary.org
Gilbert, Martin, Final Journey (New York, N.Y.: Mayflower Books, 1979), 32
Niewyk, Donald, “Holocaust: the Genocide of Jews”, in Samuel Totten and William S. Parsons ed., Century of Genocide (New York, N.Y.: Rutledge, 1997), 132

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