Por Fábio Zanini
Publicado neste blog com autorização expressa do autor.
KIGALI (RUANDA) – Esse texto começa com um pedido de compreensão. Data máxima vênia, como dizem os advogados. Não quero transformar esse blog num poço de depressão, e acho que já falei bastante sobre os horrores do genocídio de Ruanda, mas não seria honesto deixar de relatar mais uma história macabra.
Setores da igreja, como eu já disse antes, se comportaram como cúmplices dos massacres de 1994. Em várias delas, em que milhares de tutsis e hutus moderados foram mortos, hoje há memoriais. São dezenas e dezenas pelo país. Dois dos mais conhecidos estão a cerca de 30 km de Kigali, as igrejas de Ntarama e Nyamata, ambas católicas.
Num dia é possível visitar os dois locais. Primeiro fui a Ntarama. Da estrada que sai da capital, pega-se uma estradinha de terra entre plantações de banana e 4 ou 5 km depois chega-se à igreja. É uma típica paróquia de vilazinha de interior, com paredes de tijolo, coberta por telhas e bancos de madeira com altura de menos de 30 cm. Normalmente, comportaria no máximo 200 pessoas.
Em abril de 1994, 5.000 almas se espremeram dentro da igreja. Milicianos hutus cercaram o prédio, primeiro cortaram a água e, após três dias, atacaram. As roupas usadas pelas vítimas do banho de sangue hoje estão expostas nas paredes. No fundo da igreja, quatro prateleiras guardam ossos e crânios, a maioria com sinais de rachaduras. O mais impressionante deles ainda tem espetada uma ponta de ferro.
Eu, um perfeito idiota, fui achar de relar na tal ponta, que imediatamente se moveu ao mais leve toque. A mulher que toma conta do local obviamente me fuzilou com o olhar de reprovação. Um vexame.
Nos bancos, há manchas endurecidas. É sangue. Num canto, alguns cadernos escolares, de crianças que ali se refugiaram. E que também acabaram mortas.
A 5 km, Nyamata é ainda mais impressionante. Primeiro porque é maior, fica no centro da cidadezinha. Os mortos ali foram o dobro do que em Ntarama: 10 mil. As roupas estão espalhadas nos bancos.
O pano que cobre o altar está todo manchado de sangue. Em cima dele, um facão usado na matança.
Para completar o ar tragicamente surrealista, uma imagem de Nossa Senhora na parede olha diretamente para baixo observando tudo.
No fundo da igreja, uma escadinha leva a uma câmara em que dezenas de crânios estão expostos.
E há um único caixão também. A administradora do memorial explica que é de uma das raras vítimas cujo corpo não foi retalhado por machadinhas. Ela morreu com uma lança que entrou pela vagina e saiu pelo crânio. Tinha 9 anos de idade.
Do lado de fora, mais uma escadinha leva a mais um porão, de uns três metros de profundidade. Ali os crânios não são dezenas, são literalmente milhares...
Um comentário:
esses hutus são uns animais mesmo, e pensar q hoje eles, os mesmos que mataram circulam pela região... deveriam ser todos mortos, da mesma forma
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