Perseguição religiosa na Romênia
Jornal Oeste Notícias, 28 de Novembro de 2007
Aldir Guedes Soriano
A Romênia passou por duas experiências totalitárias terríveis. Primeiro, durante a Segunda Guerra Mundial, a sua população foi oprimida pelo nazismo. Já no pós-guerra a ocupação soviética foi determinante para que o país se tornasse uma República Popular Comunista. Foi nesse contexto, que o Pastor Richard Wurmbrand foi perseguido, preso e brutalmente torturado por nazistas e, também, por comunistas. “Fui espancado pela polícia de Hitler e no tempo do comunismo, e não pude ver qualquer diferença. Tanto num quanto noutro caso as surras doeram muito.” Wurmbrand relata tais experiências em seu livro “Torturado por amor a Cristo”, publicado pela Missão a Voz dos Mártires (http://www.vozmartir.org/).
No momento em que o regime comunista se instalou na Romênia, em 1945, Padres e Pastores foram instados a aderir à ideologia marxista. Assim, em pouco tempo as igrejas passaram a ser controladas por prelados comunistas. Por outro lado, desenvolveu-se a igreja subterrânea, uma vez que muitos cristãos caíram na ilegalidade e continuaram a proclamar o evangelho através da distribuição de literatura religiosa. Ao persistir nesse trabalho voluntário, Wurmbrand foi encarcerado e por 14 anos padeceu terríveis suplícios nos cárceres comunistas.
Wurmbrand presenciou e também suportou torturas abomináveis. Os Crentes eram pendurados de cabeça para baixo e açoitados severamente. Por vezes ratos eram introduzidos nas celas obrigando a vigilância permanente durante semanas para evitar o ataque dos bichos. Outras vezes, os prisioneiros eram lançados, com pouquíssima roupa, em celas refrigeradas e revestidas por uma camada de gelo. “Eram colocadas em nossos punhos algemas com lâminas afiadas na parte interna. Se ficássemos totalmente parados, elas não nos cortavam. Mas nas celas geladas, quando tremíamos de frio, nossos punhos se cortavam.”
Em decorrência das torturas, Wurmbrand teve diversos ossos fraturados e o corpo marcado por cicatrizes de 18 perfurações. Foi com as tais cicatrizes, que ele testemunhou os horrores experimentados na carne, perante a Subcomissão de Segurança Interna do Senado dos Estados Unidos da América. Há também um vídeo disponível no youtube em que as lesões são mostradas, no endereço: http://br.youtube.com/watch?v=7MofYRU0dyg.
Wurmbrand também resistiu à lavagem cerebral. Ele tinha que escutar, 16 horas por dia, durante semanas, meses e anos, as seguintes frases repetitivas: O comunismo é bom!; Cristianismo é estúpido! e Desista!. Esse seu relato também está disponível no endereço: http://br.youtube.com/watch?v=iZajLGoNws8.
Os escritores Christopher Hitchens e Richard Dawkins criticam a doutrinação religiosa infantil. Dawkins argumenta, por exemplo, que não existe criança cristã, judia ou muçulmana, mas criança cujos pais são cristãos, judeus ou muçulmanos. Ora, da mesma forma, pode-se dizer que não existe criança ateía, mas criança cujos pais são ateus. Ademais, como observa Wurmbrand, agentes comunistas costumavam retirar as crianças romenas do convívio familiar para inculcar nelas a ideologia ateísta do Estado e romper com a orientação dos pais, que é um direito assegurado por tratados internacionais de direitos humanos. Vide, por exemplo, o art. 12 do Pacto de São José da Costa Rica.
Felizmente, em 1989, a Romênia deixou de ser um país comunista. A era sombria ficou no passado, entretanto não se podem olvidar as drásticas violações de direitos impostas aos cristãos pelo totalitarismo comunista e ateu assim como os crimes contra a humanidade, que foram impingidos pelo totalitarismo nazista. Vale lembrar as palavras de Thomas Jefferson: “O preço da liberdade é a sua eterna vigilância”.
ALDIR GUEDES SORIANO, advogado, é membro da Comissão de Direito e Liberdade Religiosa da OAB-SP (seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil) e autor do livro "Liberdade Religiosa no Direito Constitucional e Internacional" Site do autor: www.aldirsoriano.com.br
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